Otorrinolaringologia e a COVID-19
A COVID-19, doença causada pelo recém descoberto coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), se tornou o principal tema de discussão de saúde pública desde o início de 2020. Dentre os tópicos abordados, discute-se o espectro da apresentação clínica da doença em questão, o qual pode variar de infecções assintomáticas a quadros graves. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 80% dos pacientes com COVID-19 podem ser assintomáticos ou oligossintomáticos, compreendendo sintomas como tosse, febre, coriza, dor de garganta, dificuldade para respirar, distúrbios gastrintestinais, cansaço, diminuição do apetite e dispnéia.(1)
Recentemente, em 22 de março de 2020, tendo em vista vários relatos descrevendo um comprometimento súbito da capacidade olfativa em pacientes com confirmação da doença, a Academia Brasileira de Rinologia (ABR) e a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) orientaram que a disfunção olfativa (DO) pudesse sugerir a infecção pelo vírus SARS-CoV-2 e, portanto, devesse ser incluída aos demais sintomas como critério diagnósticos da COVID-19. Também, segundo apontamentos feitos pela CDC (Centers for Disease Control and Prevention), a DO pode atuar como um marcador da COVID-19, principalmente entre os indivíduos minimamente sintomáticos ou naqueles em que a DO seja o único sintoma.(2,3)
Estudos recentes em modelos animais sugerem a entrada intracraniana do vírus através do bulbo olfatório, o que explicaria o sintoma de DO. À medida que as proteínas de superfície do novo coronavírus se ligam aos receptores da enzima conversora de angiotensina 2 presentes na superfície do epitélio nasal, o vírus alcança o meio intracelular desse epitélio. Assim, consequentemente, instala-se um quadro inflamatório, subsequente ao rompimento de células do neuroepitélio olfatório, levando ao prejuízo da função dos neurônios olfatórios.(3)
Ademais, não se descarta a possibilidade de que o SARS-CoV-2 tenha como alvo os sistemas olfativo e gustativo. Todavia, acredita-se que comprometimento quimiossensorial na COVID-19 seja provavelmente olfativo, haja vista que pacientes descrevem alterações de paladar atribuídas, predominantemente, à olfação retronasal prejudicada.(3)
Habitualmente podemos utilizar medidas subjetivas da olfação como escalas analógicas, escalas ordinais ou medidas de resultados relatados pelos pacientes, Quando necessário a função olfatória e gustativa podem ser avaliadas objetivamente pelos testes de olfatomometria e de gustometria, que avaliam a intensidade da DO e permitem acompanhar a sua evolução.(3)
Caso a DO persista após a recuperação da COVID 19, os pacientes devem ser avaliados procurando descartar outras etiologias para o sintoma como, por exemplo, alterações naso sinusais ou intracranianas.(3)
Em relação ao tratamento, o treinamento olfativo pode ser proposto para pacientes com DO persistente relacionada ao COVID-19, principalmente pelo seu baixo custo e efeitos adversos desprezíveis. Além disso, em consonância com as posições atuais da OMS e do CDC, a ABR também orienta que os médicos evitem indicar corticoides sistêmicos para tratamento em pacientes com sintomas gripais, pelo menos durante este período de pandemia.(3)
Com relação ao uso de corticoides tópicos nasais (CTN), as evidências não demonstram malefícios e seu uso pode ser mantido em pacientes que tem indicação do uso continuado deste medicamento. Na ocorrência de febre ou outros sintomas sugestivos de síndrome gripal, o médico pode considerar a suspensão temporária do CTN já que em infecções agudas virais, a CDC orienta não utilizar os mesmos, neste contexto de pandemia.(3, 4)
Embora estudos demonstrem que o Ômega-3 sistêmico, a vitamina A intranasal e o citrato de sódio podem ser efetivos no tratamento da DO pós-infecciosa. não há comprovação de sua eficácia terapêutica na DO relacionada ao COVID-19.(3)
As informações obtidas permitem concluir que a DO está associada à COVID-19 e, portanto, pacientes com perda de olfato e/ou paladar, com ou sem sintomas gripais, devem passar por um período de auto-isolamento e, o mais breve possível, realizar os testes diagnósticos para COVID-19 sempre sob supervisão médica adequada.(3)
Relatos de caso sugerem que a COVID 19 também pode estar associada à surdez súbita e à otite média aguda, porém tal relação necessita de estudos mais aprofundados para uma conclusão objetiva.(5, 6, 7)
Referências:
- Ministério da Saúde. Sobre a doença. Disponível em: <https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca>. Acesso em 17 jul 2020.
- Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Pesquisas online mostram perfil da anosmia súbita no Brasil durante pandemia do COVID-19. Disponível em: <https://www.aborlccf.org.br/secao_detalhes.asp?s=51&id=5957#>. Acesso em: 17 jul 2020.
- Whitcroft KL, Hummel T. Olfactory Dysfunction in COVID-19 Diagnosis and Management. JAMA. 2020; 323 (24): 2512-2514. doi:10.1001/jama.2020.8391. Acesso em 17 jul 2020.
- Jotz GP, Voegels RL, Bento RF. Otorhinolaryngologists and Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). Int. Arch. Otorhinolaryngol. vol.24 no.2 São Paulo Apr./June 2020 Epub May 18, 2020. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-48642020000200125>. Acesso em 17 jul 2020
- Fidan V. New type of coronavirus induced acute otitis media in adult. Am J Otolaryngol. 2020;41(3):102487. doi:10.1016/j.amjoto.2020.102487. Acesso em 20 jul 2020.
- Sriwijitalai W, Wiwanitkit V. Hearing loss and COVID-19: A note. Am J Otolaryngol. 2020;41(3):102473. doi:10.1016/j.amjoto.2020.102473. Acesso em 20 jul 2020.
- Abdel Rhman S, Abdel Wahid A. COVID -19 and sudden sensorineural hearing loss, a case report. Otolaryngology Case Reports. 2020;16:100198. doi:10.1016/j.xocr.2020.100198. Acesso em 20 jul 2020.
Comentário do Professor
A Covid -19 tem se mostrado uma doença extremamente contagiosa , cujo meio de entrada no nosso organismo se faz através da ligação do vírus aos receptores da enzima conversora da angiotensina 2, presente em vários órgão, causando uma grande variedade de sintomas.
Na área de atuação do otorrinolaringologista, os sintomas e sinais de infecção das vias aéreas superiores são os mais prevalentes, podendo confundir a Covid-19 com um resfriado comum. O profissional de saúde, ao atender um paciente com suspeita de Covid 19, deve investigar ativamente sobre a presença de alterações do olfato, o que pode auxiliar no diagnóstico e na conduta a ser tomada.
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